quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Duplipensar


a Razão para a Loucura
por que és tão racional?

e, a Loucura, para a Razão:
porque és completamente louca.

sábado, 20 de setembro de 2008

A Moral Definitiva


por que ao invés de classificar em bom ou mau
você não diz simplesmente amoral?
nada mais atemporal
nada mais acultural
nada mais é mais moral

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Make your choice


eis que gravitando na ponta da sacada
sobe à alma vertigem de vida:
precipitar-se no mais masoquista dos atos
não ameaça cair pior que o sadismo
da castração diária dos seus instintos

e se se atira apaixonadamente à supressão dos sentidos
é por não sentir o sentido
dos que mergulham insensíveis na falta de sentido;
e se se inclina vivamente à morte
é por não curvar-se ao luto dos passos vivos
dos que logo abaixo vivem a morte cotidiana;
finalmente, se se salta toda uma vida
é pela beleza da combustão
é pela ausência de poesia da putrefação

e olhando de pé, aqui, de baixo
desfaleço só de antever de que tipos de mortes
é que vou viver

terça-feira, 5 de agosto de 2008

The Dream is Cover


Automatizaram a fábrica de sonhos.
Automatizaram a fábrica de sonhos.
Automatizaram a fábrica de sonhos...

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Matrix

se em algum mísero instante você puder contemplar o quão exatamente todos os valores que o rodeiam são infinitamente artificiais, então experimentará a divina percepção da mediocridade de tudo, da total ausência de sentido em quaisquer metáforas e da necessidade visceral de ser selvagemente abatido por algo de real: sua mente enfim será libertada e, ainda que encarcerado fisicamente, você será o mais feliz dos mortais ao distinguir-se completamente do todo e ao fazer-se capaz de orientar todos os seus esforços pra vivenciar os únicos momentos sinceros de toda a sua vida, fim último da existência.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Desencontro


eu procurei nos lugares mais longínquos
nas coisas miúdas, nas situações do dia-a-dia
procurei em várias pessoas
em sensações, nos objetos que eu não podia pegar
eu procurei na perdição
na crença, no conhecimento
e até, também, no tormento
quem disse que não se podia procurar lá?

eu procurei e procurei
procurei até não mais lembrar
o que eu estava a procurar

terça-feira, 3 de junho de 2008

Mente


a mente
sagaz-mente
paradoxal-mente
ve-e-mente-mente
mente
no tocante à mentira

fantasiosa-mente inflingimos-nos
a temporaria-mente acreditar
no que o subordinado corpo
não nos deixa expressar

mas por que dissimulada-mente renegar
o advérbio essencial-mente do nosso prosear?
por que irracional-mente alimentar a bola-de-neve
ameaçadora-mente em rota de colisão
com o pilar dos nossos relacionamentos?

talvez, por inconveniente conveniência
de uma cultura triste-mente
marcada por incoerências

ou quiçá tudo não passe de mera quimera
fugaz-mente fabricada confusa-mente
por uma limitada mente
incapaz de sequer inexata-mente
distingüir o pensamento singular do plural

quarta-feira, 28 de maio de 2008

O Questionamento Insólito



quando dista, em metros redondos
a simplicidade do sol
da complexidade das laranjas?

quarta-feira, 21 de maio de 2008

O Sémen e a Flor


à flor da pele, sem cor
brota a semente da presença
como que florida de nascença
de fotossíntese do semeador

a flor da pele, o candor
floresce pavidamente
da sensação impotente
de que semea dor o semeador

mas, à flor da pele, a flor da pele
sensibiliza-se, semeada cutaneamente
que, desflorada de seus entrementes
semea amor o semeador

quarta-feira, 14 de maio de 2008

O voyeur e o exibicionista


ardendo na chama da vaidade
gozando o calor da contemplação
a ânsia de ser apreciado
satisfeita pelo prazer da invasão

ardor na sensação do patente
combustão oxidada pelo proibido
a coexistência dos adversos
é a labareda humana da libido

em todas esferas da existência
há fogo em relações homônimas
seja entre homem e mulher
ou leitor e blogueiro, sinônimas

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Essência


é tanto amor que eu faço tudo
me esqueço de mim mesmo
me expulso de meu eu
e te dou o mundo
(nem que seja o meu)

só, por favor
não me peça que te dê o meu amor:
ele já foi compartilhado
é meu, teu, do outro
Universal

terça-feira, 29 de abril de 2008

Falsos imediatismos


ei, volta
aonde vai?
por que tão rapidamente
assim, de repente
você me sai?
me ouve, não corre
presta atenção e não foge
me escuta, me entende, senta, sossega
desafoba, não tenha tanta pressa...

só o amor é urgente!

quinta-feira, 24 de abril de 2008

O vento não pára. Não pára, não. Não pára...


vento estacionário
dos dias amenos
que levanta a poeira dos momentos vividos
que revolve os sonhos esquecidos
em pedaços perdidos.
justificai-me:
o que é este presente?

vento que vem
que assovia no calor
refresca a mente
acaricia-me a pele
e varre as folhas gastas.
revelai-me:
o que será do futuro?

vento que vai
que sopra no inverno
traz névoa a meus olhos
congela o silêncio
e maltrata os ossos.
respondei-me:
o que houve ao passado?

vento que vai e vem
sendo leve brisa
ou ventania
desvendai os mistérios do tempo!
diz-me, de uma, todas por vez
para onde levas?
para mim?

vento que vai e não mais vem
explicai-me:
por que não me conformo em esperar
e não me deixar levar
em ter que suportar ouvi-lo passar
e nascer de novo
limpar a casa, os cantos da alma
aguardando que um novo vento virá?

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Alternativa


tire as máscaras antes de entrar
aja duas vezes sem pensar
ponha o carro na frente dos bois
pois os últimos serão sempre os últimos
e tempo é vivência

recordar é pausar a vida
e ter a consciência limpa não é ter memória fraca.
a última impressão é a que fica.
beba muita cachaça
esqueça-se depressa de mim

vá pelo sol
não pise no cimento
fale com estranhos
mas o dinheiro não fala todas as línguas
e o futuro a você pertence

faça o que faço e não o que digo:
em terra de cego quem tem um olho é apredrejado.
fuja do anti-convencional